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17 março 2015

Dar o corpo às balas

Ontem vim à guerra. A apresentação que fiz tinha tudo para correr malzinho. Era uma sala cheia de opiniões contrárias à que ia expor, na casa do "inimigo", na boca do lobo. Era a contraposição da exposição do Director do Serviço. E foi a última apresentação da manhã, à hora do almoço, cheia de estômagos a desesperar. Mas safei-me. Apesar de tudo, safei-me.

Mas espalhei-me toda cá por dentro no momento em que me saiu um "neste ponto, agradecer à organização", ai! Bolas, comecei uma frase com uma forma verbal do demo! Ainda fiz marcha atrás, reformulei para "devo agradecer", mas a bala tinha sido disparada e atingiu-me mesmo no meu coração gramatical. Pum.

21 janeiro 2014

Sou médica interna.

"Sou médica interna. Sou médica daquelas que demoram muito. Não entupo urgências, porque não trabalho lá, mas deve estar muita gente à minha espera, na sala onde se espera. De certeza que pensam que sou “estagiária”. Não tenho carro, vivo numa casa alugada, pago as contas (às vezes em atraso). Trabalho, estudo, vivo em constante preocupação porque tenho que estudar mais, tenho de fazer relatórios e posters e apresentações. Vivo entre exames, artigos científicos e isso sim, trabalho, muito trabalho. Ao meu lado estão outros médicos internos. Raramente adoecem.. estão lá, ganham o mesmo que eu. Estou motivada, mas menos motivada, estou lá, mas às vezes penso que devia estar noutro sítio. Às vezes chego ao fim do mês à justa. No talão diz 1800… acho…, mas chega bastante menos à conta na CGD. Não sou especialmente ambiciosa. Nem especialmente poupadora nem gastadora. Compro roupa na Zara e móveis no IKEA (dos baratos). Tenho o apartamento alugado meio vazio, mas não faz mal porque passo lá pouco tempo. Tenho uma secretária de 1,50m de largura no trabalho, que está sempre muito cheia. Tenho o novo corretor ortográfico no computador, mas irrita-me. Vou à pagina da Ryanair quando estou pensar em férias. Mas cada vez penso menos. Não tenho animais de estimação, mas gosto de animais de estimação. De manhã acordo mais tarde do que devia, mas chego a horas ao trabalho. Vou a pé, porque vivo na baixa (isso deve ser um luxo). Estou inscrita num ginásio ao qual raramente consigo ir. Cada vez que abro o facebook vejo salários de políticos aos quais não sei atribuir significado. Depois vejo salários de médicos que não conheço. Às vezes leio os comentários das pessoas revoltadas com o que ganham os médicos, com o bem que vivem. Eu devo ser da classe priviligiada, porque sou médica. Não tenho carro, não tenho casa própria, não tenho um iphone, porque me parece excessivamente caro. Ganho 1200 euros. Tenho 30 anos. Matei-me a estudar na faculdade, tenho o trabalho em dia, mas não sou lá muito inteligente porque me esqueci de pagar a conta da edp. Na sexta-feira cheguei às 21:00 a casa (devia ter saído às 18:00) e tinham-me cortado a luz. Tenho de me organizar melhor. Na televisão não falam dos sacrifícios, não dizem que fiquei horas a mais a fazer o trabalho que estava a menos, porque sou lenta talvez… Deve ser isso. Não fui para a night porque estava esgotada. Dormir é uma das minhas grandes prioridades. Não vou muito ao cinema, nem vou aos eventos culturais de que gostaria. Não viajo muito, nem vou jantar a restaurantes caros. Sou médica… é verdade. Médica interna, jovem inexperiente. Daqueles que entopem urgências e custam muito dinheiro ao estado porque estão em formação… Deve ser melhor para os recém-assistentes que estão à espera do contrato para a semana há um ano… Ao longo do internato que vejo passar… só vejo as coisas piorar. Mas estou muito motivada, amanhã vou trabalhar."

Ana Cátia Morais
no blog mandrionices

05 dezembro 2013

Ok, comecei a trabalhar e portanto este ano é o primeiro em muita coisa. O primeiro a ganhar carcanhol (gosto tanto desta palavra... carcanhol... e do carcanhol em si também... carcanhol), o primeiro de alguma responsabilidade (alguma, vamos com calma!), o primeiro de não ter milhares de férias (... não vamos falar sobre isto). Hoje chegou-me ao mail mais um primeiro: o primeiro convite para a festa de natal da empresa. Tudo bem, é só uma festa de natal, mas está não tem troca de presentes por menos de 5 euros... Antes tem alguns milhares de convidados para jantar num espaço com 3800 metros quadrados e mete toda a gente que eu vejo de bata todos os dias, à civil, que nem pessoas normalíssimas, que nem gente que janta em fato de festa. Ainda não sei se vou, mas começo a pensar que se calhar tenho pensar no que vestir... Não de mais, não de menos, sapatos, vestido/ saia/calças, curto, comprido, brilhos, discreto? Ai ai...

25 novembro 2013

A espera

Não tenciono desesperar, mas não é que não tivesse razões para isso. Escolho especialidade dentro de dias e ainda não se conhecem as vagas, nem os sítios nem as datas... Ando assim, ao sabor da maré, à espera não sei bem de quê, talvez de algo ou alguém que me diga que guardou um lugar para mim, promessa de um futuro incerto - porque ao contrário do que se pensa, também os médicos andam aos caídos.
A espera de todos é o desespero de muitos, convencidos e enamorados pela beleza da arte, agora acordados pela tristeza da realidade.
Adaptação. Ou não será isto apenas e só uma pequena parte de nós?
É o que é. E é assim.

29 outubro 2013

Exame objectivo de um médico em saída de urgência

Degradação do estado geral. Apresentação pouco cuidada. Aspecto de coitadinho.
Prostrado e sonolento. Pouco colaborante.
Humor deprimido. Mímica pobre. Não dirige o olhar. Apelativo quando abordado.
Pele e mucosas pálidas mas hidratadas.
Eupneico, sem sinais de dificuldade respiratória, embora por vezes se esqueça de respirar.
Cefaleia holocraneana com fotofobia, audiofobia, "tudo-fobia".
Dor intensa à mobilização cervical. Dores em todos e cada um dos grupos musculares.
Discreto edema dos membros inferiores, ainda que use em segredo umas bonitas meias de descanso.
ECG com taquicárdia e extrassístoles ventriculares e tudo e tudo e tudo.
Exame neurológico sumário: lentificação psicomotora. Desorientação espácio-temporal: não sabe às quantas anda e não faz idea de onde deixou o carro. Marcha de base alargada, andar vacilante. Sensibilidade aumentada, estado de "não me toques que me desafinas".

Considera-se o diagnóstico de "médico em saída de banco". Interna-se para monitorização dos parâmetros vitais e acompanhamento da situação clínica. Está malzinho, mas prognósticos, só no fim do jogo.

15 outubro 2013

Note to self

Trabalhando de noite no serviço de Urgência:
Se não queres jantar às 5 da manhã, não comas a ceia às 22h.

26 setembro 2013

Mal de amores

As maleitas do coração são com frequência as que mais preocupam os doentes. E com razão, que há coisas gravíssimas que se passam por ali:

"Olhe, excusa de procurar que eu digo-lhe já o que é isto" (eh lá, queres ver?) "isto, para mim, é coração." (Para que é que a malta se mata a estudar, se os familiares só querem saber que órgão é?)
 "... estou cheia de artérias! (Oi?) Sim, já fui ao ortopedista e ele disse que o problema são as minhas articulações!, estão cheias de artérias!" (Artroses...)
"... a minha médica até já me disse que eu já tive - pelo menos por 3 vezes - batimentos cardíacos!" (Minha senhora, pela sua saudinha, espero que tenha tido muitos mais...)


24 setembro 2013

Eu gostava de saber se posso processar a Ordem dos Farmacêuticos

Eu gostava de saber se posso processar a Ordem dos Farmacêuticos pelo "Crime de nos Andar a Atirar Areia Para os Olhos". Ainda não ouvi ninguém vem dizer 'ah, não senhor, isso é tudo mentira': do que se queixam é de que a generalização é abusiva (naturalmente, como todas), e como só houve x denúncias, vamos mas é esquecer isto. A sério??
É que já não bastava a palhaçada das receitas onde se diz que o fármaco prescrito custa “ no máximo X€, a não ser que se opte por um mais caro”... Meus senhores, isto não significa absolutamente nada!! Trocando por frutas – que é assim que se aprende a fazer contas - é o mesmo que haver à venda laranjas a 0,90€, mas na lista de compras termos que elas custam no máximo 1,50€, a não ser que queiramos comprar as mais caras! Que tipo de informação é esta? A intenção não era que as farmácias tivessem alguns dos genéricos mais baratos?... de boas intenções está o inferno cheio.
Mas tiremos isto a limpo: experimentem saber os preços reais dos genéricos mais baratos de algum medicamento. Entrem numa farmácia e peçam-no. Depois falamos.

22 setembro 2013

Hospital Pulivalente,

é algo que não existe, mas que bem podia existir, tal é a quantidade de vezes que lhe dão esse nome.
Estou a falar daquele Hospital de Lisboa, ali para os lados do Lumiar, que se chama - pasmem-se - Hospital Pulido Valente.
E quem é esse?, perguntam as vossas almas, ávidas de conhecimento. É este:

Francisco Pulido Valente foi na sua época um notável médico e professor da Faculdade de Medicina de Lisboa. Defendeu tese em 1909 e dois anos depois, após concurso de provas públicas, foi nomeado médico efectivo dos Hospitais Civis. Foi assistente de Psiquiatria e especializou-se no estudo de doenças nervosas e Cliníca geral. Foi mobilizado para França (1917) onde dirigiu os serviços de doenças infecto-contagiosas, inicialmente no Hospital de Cherville e depois no Hospital Militar de Hendaia e no da Base nº2. Regressando a Portugal, reassumia as funções anteriormente prestadas, ascendendo a professor catedrático e regendo a cadeira fundamental de Cliníca Médica.
Homem de grande cultura cientifíca, competência excepcional, visto como um renovador na Faculdade de Medicina. Representou Portugal em diversos congressos cientifícos e foi premiado por diversos trabalhos neles apresentados. Sempre viveu afastado da vida política militante, assumido republicano, destacou-se pela sua intrasigência na famosa greve académica do tempo de João Franco. Em Junho de 1947, determinado em Conselho de Ministros, foi-lhe retirada a cátedra por ser considerado desafecto à política de Estado Novo dedicando-se então à clínica particular.
Este grande clínico, um dos maiores do País, avesso a todas as formas de publicidade, é autor de vários e valiosos trabalhos de investigação. De entre eles assinale-se: Introdução ao Estudo da Histeria; A Etiologia e a Patologia da Paralisia Geral; Um caso de Actinomicose; Estudo Clínico e Experimental; Sobre Vinte e um Casos de Encefalite Letárgica.

Enciclopédia Luso-Brasileira

03 setembro 2013

Chegar das férias, entrar às 8 da manhã e ter Urgência à noite...
Ninguém merece!

22 julho 2013

O dilema dos sapatos

Desde que comecei a trabalhar tenho feito uma lista de material que não me fez grande falta durante o curso mas que, agora (ou a médio prazo) me vai dar jeito na prática clínica.

Uma dessas coisas é um par de sapatos confortável para as Urgências... Ora bem, 

1) o tradicional é ter umas socas no cacifo. (Aqui põe-se o primeiro problema, que é o ter um cacifo. Mas adiante...).




Não são o supra sumo da moda, mas o hospital também não é uma passagem de modelos (embora muitíssimas vezes pareça!!).


2) outra hipótese é comprar umas crocs,

 

que há para todos os gostos, mas que ainda não me convenceram porque me fazem lembrar o típico turista de sandálias e meias...


3) uma excelente ideia que me tinha ocorrido era ir comprar uns Não do Brasil, mas agora que me davam jeito é que aquela loja fantástica das Amoreiras fechou...



4) as minhas paez às flores são o máximo, mas não sei se não serão demasiado folclóricas para ir trabalhar. Dar muito nas vistas nunca fez o meu género...





Vai daí, fiquei a modos que sem melhores ideias e para já vão servindo os meus Timberland velhinhos que não são muito pesados e são super confortáveis... Até quando vão aguentar é que não sei...

10 julho 2013

Na psiquiatria até as bactérias têm perturbações do humor..., "sabe, Dra., é que eu apanhei uma pneumonia bipolar".