30 setembro 2010

Dia #45 das Férias: Marrakech - Primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Quase no final de um Verão em cheio, fui passar uns dias a Marrakech. Honestamente, não sabia bem o que esperar... cá por casa o espírito manteve-se em "ainda não mudaram o destino da viagem?" até à véspera da partida; por outras bandas ouvia "iii, que sorte, quem me dera!" desde o dia em que marcámos o voo. Opiniões não se discutem.


1.º Dia - Madrid
Almoço no Mac – Museu Reina Sofia- Monumento às vítimas do 11/Mar na estação de Atocha. Depois, Noche en blanco: Museus, cafés, restaurantes abertos até às tantas (jantamos no Mercado de San Miguel - sim, a malta trata-se bem!); avenidas cortadas ao trânsito; milhares e milhares de pessoas por todo o lado (e um hospital de campanha da SAMUR no meio da cidade, just in case); concertos para todos os gostos e espectáculos de fogo na rua; bolas de sabão gigantes... Resumindo, a ver se descubro outra cidade europeia para passar mais uma "Noite em Branco"...






2.º Dia - "Marrakech, o primeiro impacto"
Já dizia Fernando Pessoa: "primeiro estranha-se, depois entranha-se". E tinha razão em inúmeras maneiras de que nem ele se apercebeu...

(1). Primeiro estranha-se, SIM! Tudo é diferente de cá! Logo que saímos do aeroporto no mini-bus de transfer para o hotel, percebemos que o trânsito é o caos: ao pé de um marroquino, um italiano é um menino... Andámos, andámos, andámos, começámos a contornar a muralha da Medina até que a paisagem se começa lentamente a assemelhar ao Iraque-dos-telejornais. Neste momento o B. ganha coragem e diz exactamente o que todos pensávamos "Para aqui é que eu não venho a pé de certeza!", ao que o nosso motorista responde no seu francês-marrocain: "Chegámos!".

O sangue esvaiu-se das veias e com um sorriso amarelo lá tirámos as malas da bagageira. "Sabem ir sozinhos até ao Riad?"

"NÃO!!"

Fomos em silêncio atrás do pouco amigável senhor, com as malas bem encaixadas debaixo do braço, como se nos protegessem de alguma coisa - ou nós a elas. E assim caminhávamos, a olhar para todos os lados à espera da rajada de metralhadora que devia estar mesmo para acontecer!...

Chegámos ao Riad Dar Tuscia.





"Vá lá, pode ser que isto não corra assim tão mal." Ainda assim, a mera hipótese de sair do Riad dava-me a volta ao estômago...

"Teresa, o que se passa?"

"Quero ir para casa!"

Mas... Estávamos num país novo, num continente diferente - são só três dias, 'bora lá!

Pensámos em perguntar, já agora, qual era o número de emergência. "Número de emergência? Se acontecer alguma coisa liguem para mim, sou o vosso número de emergência!"

(Oh não!) "Pronto... então vamos... ... ..."

"Vão agora visitar a cidade? Boa sorte!"

"Boa sorte?" (OH NÃÃOO!)

Ok, respirar fundo e aqui vai disto! Metemo-nos ao caminho. Mapa em punho, carteiras sempre debaixo de olho - é impossível não se parecer turista por aquelas bandas (verdade seja dita, houve quem pensasse que íamos 4 turistas com o J., o marrocain... hehe).

Ao fim de alguns minutos a andar entrámos, sem saber bem como, num Souq.







A confusão perfeitamente organizada daqueles "centros comerciais" é qualquer coisa de fantástico - pena estar ainda demasiadamente apreensiva para conseguir aproveitar. As cores e os cheiros (vá, nem sempre agradáveis, é preciso dizer) misturam-se com os sons dos vendedores que levam o negócio como um jogo a que não podemos escapar. Pedem-nos X dirhams, oferecemos 1/3 e vamos subindo até à metade. No máximo. Pensamos invariavelmente que fizémos um grande negócio. Mas não. Eles sim, nós não.

Era hora de almoçar, a barriga dava horas e não fazíamos a mais pálida ideia de onde ir.

"Trinta? Não dou trinta por isto!" - São portugueses!!

Era o seu último dia; “onde almoçar?, perguntem ali ao Henrique.”

Recomendou bem: Café des Épices.

Durante o resto da tarde andámos a ver as vistas. Entrámos pela primeira vez na praça Jamaa el Fna, que, ainda durante o dia, mal deixa prever o rebuliço da noite! Seguimos para sudoeste e fomos espreitar os jardins e a mesquita de Koutoubia. O seu minarete de apenas 69m vê-se de toda a cidade e que foi usado como modelo para La Giralda, em Sevilha e para a Torre Hassan, em Rabat.




Acabámos por comprar ali mesmo bilhetes para o hop on - hop off da zona, que nos deu uma boa perspectiva do que havia para visitar nos dias seguintes.

Jantámos no centro e voltámos para o Riad ainda cedo.


(2). Depois entranha-se, SIM! Ao chegar ao Riad foi tudo tomar banho outra vez… era o calor, o pó, o fumo, os cheiros, tudo entranhado até à medula, camadas e camadas de… isso!

Ao fim do primeiro dia em Marrocos, parecia que tinha passado uma semana. As emoções ao rubro do primeiro impacto foram esmorecendo. Pensando bem, somos mais claros, aparentemente mais saudáveis, talvez mesmo mais ricos, por outro lado estamos obviamente menos ambientados, somos talvez menos sujos, mas também menos vestidos. Ainda assim, e apesar de nunca passarmos despercebidos, ninguém diz nada, ninguém se aproxima. Vivem o espírito do "tu ajudas-me a puxar a minha mota, eu mostro-te os meus camaleões bebés".

É uma convivência pacífica. Fico mais descansada.




3.º Dia
O pequeno almoço não era diversificado mas superou largamente as expectativas (tinha levado uma caixa de bolachas, não fosse a coisa dar pr'o torto...). Café, leite, sumo de laranja natural; croissants e pão; manteiga e doce. How nice?!

Saímos do Riad já mais confiantes e preparados para aproveitar o passeio.

Fomos em direcção à zona nova da cidade (ruas iguais às de uma típica cidade europeia, apenas com mais trânsito, mais turbantes e burcas e consideravelmente mais sujas) onde, à espera do autocarro, o J. fez a melhor compra da viagem: um horloge-automatique-originel, preto, por 1/6 do que o marrocain lhe pediu inicialmente! C'est un berbère, celui là!

Apanhámos o hop on - hop off em direcção aos jardins de Menara. As fotografias do guia da American Express prometiam um jardim fulgurante, um palácio grandioso e um lago dourado. Somos testemunhas do poder do photoshop... O jardim era um amontoado de oliveiras raquíticas, o palácio era uma moradia velha e o lago, esse sim digno de ser visto, era um enorme lamaçal com peixes de meio metro e crianças a tomar banho lá dentro... Bonito!





Hop on - hop off com eles outra vez, agora para o centro da cidade.

Almoço lá pró meio da Medina: suminho de laranja marroquina – um pitéu! Comemos ainda umas sandwiches de qualquer coisa que havia de ser cordeiro mas talvez não fosse. Era bom – ou a fome era negra – portanto não interessa!




De tarde, Paláis Bahia – ora aí está uma coisa engraçada. Antes de mais devo dizer que se trata de um palácio de um só piso. Não porque não houvesse dinheiro ou conhecimento e meios para construir mais, mas simplesmente porque Sua Excelência o Rei era pró gorducho e não ‘tava para andar para cima e para baixo …

Revelou-se, este palácio, um bom spot para sessões fotográficas. Vamos lá ver: quem vê os mosaicos das primeiras salas já os viu a todos e na verdade aquilo é completamente deserto (para onde o Rei vai, vai a mobília toda atrás)! Mas os contrastes de luz, as portas e os gradeamentos e os jardins interiores fazem certamente a delícia de qualquer fotógrafo (ou “aspirante a”, com um maquinão novo! hehe).









À hora de jantar: restaurante com varanda sobre a Jamaa el Fna. Tagines e pastilla, para experimentar. A primeira era uma espécie de carne estufada com batatas e afins dentro de uma “tenda” de barro. Bom. O segundo levava já recomendado de Lisboa: era como se fosse o interior de um crepe, mas dentro de uma fartura. Muito bom! Havia de o ter comido à mão mas não me explicaram essa parte antes de ir…!

Antes de recolher ainda houve tempo para regatear qualquer coisinha nos souks.

De volta ao Riad que amanhã há mais.






4.º Dia
Saímos de manhã em busca do bairro judeu. É capaz de ser um sítio mesmo giro, mas nunca o encontrámos... Em vez disso andámos, andámos, andámos por ruas e ruelas, passámos pelo cemitério judeu, mas o bairro em si, nicles!

Por volta das 2 da tarde e a desfalecer debaixo de 42ºC à sombra achámos por bem ir almoçar: Pizzas – não pelas pizzas em si mas porque tinha ar condicionado e esguichos de água para arrefecer. Antes da comidinha despachámos uma garrafinha de litro e meio de água cada um… só por causa das coisas! E ainda foram mais umas para o caminho.

Siga para a próxima visita: os Túmulos Saadian. Situam-se em pleno distrito Kasbah Real de Marrakech, a sul da Jamaa el Fna e foram selados no século XVI. A entrada faz-se, agora, por uma estreita passagem ao lado da mesquita. Estão ali sepultadas mais de 150 pessoas, entre as quais o Sultão Ahmed El Mansour e a sua família, bem como marroquinos em geral (até servos) que tenham sido reconhecidas pela família real pelos serviços prestados. O estilo andaluz dos mausoléus, cobertos de azulejos, tem um impacto notável. Mais interessante acaba por ser a forma como se fazem distinguir hierarquicamente, mesmo depois de mortos: pequenas estruturas de mármore, sobre o comprido, ao longo de alguns túmulos, deixam transparecer, pelo requintado trabalho manual, o nível social de quem guardam.

Uma pequena pausa para descansar à sombra dos muros veio mesmo a calhar e resultou em mais fotografias bem giras!




Da parte da tarde seguimos para os Jardins de Majorelle. Ao que parece, Jacques Majorelle era um pintor francês do século passado que se estabeleceu em Marrakech em 1919 onde comprou este jardim na parte nova da cidade. Faleceu em 1962 e Pierre Bergé e o famosíssimo Yves Saint Laurent acabam por comprá-lo em 1980, mantendo-o aberto ao público. Os azuis e os jogos de luz envolvem os verdes da vasta colecção de plantas dos 5 continentes (até encontrámos madeirenses!!), contrastando com os elementos arquitectónicos aliados à estética tradicional marroquina. No interior, o Museu de Arte Islâmica apresenta a colecção de Bergé e Saint Laurent, mas estava em remodelações – fica para outra altura. Cometi o crime de usar uns calções Armani no dia em que visitámos o monumento de homenagem a Yves Saint Laurent (ficou o senhor às voltas no túmulo, concerteza)… Em relação ao monumento propriamente dito, digamos apenas que a escultura em si representava fielmente a sua tendência um tanto ou quanto… vá... exótica!







Regressámos de coche para o centro e para despedida voltámos a jantar na Jamaa el Fna. Comemos cordeiro (not…!) com acompanhamentos desconhecidos e uma imitação das tagines do dia anterior (deviamos ter deixado o melhor restaurante para o fim!).

Gastámos os últimos dirhams nos souks em presentes para trazer e estávamos de volta ao riad.




5.º Dia
De malas prontas e pequeno almoço tomado estivemos quase uma hora à espera que o motorista do transfer para o aeroporto nos viesse buscar, o que acabou por não acontecer. Pegámos nos pezinhos e fomos nós mesmos em busca de um petit-taxi, de malas a rolar alegremente pelo chão da rua, como se aquilo já fosse tudo nosso. Nem negociámos o preço (o taxista ficou meio baralhado), mas o mais engraçado foi quando estávamos já a arfar pelo calor de 6 pessoas dentro de um carro fechado debaixo de 40ºC, quando o senhor diz em franciu "il fait chau? atão tomem lá a manivela de abrir as janelas."!!

O resto do dia foi inteiramente passado em trânsito. Ou em transe...

Chegámos por volta das 20h e nunca a frase "Cheira bem, cheira a Lisboa fez tanto sentido!"


06 setembro 2010

O Algarve

Agora que acabaram estas férias no Algarve, deixem-me tecer um ou dois comentários sobre o que foi o meu Verão.

Antes de mais: era Verão. Tenho a certeza porque fui lá fora e vi.
Primeiro porque à noite estavam 30 graus à sombra (da Lua?!) e depois porque vi a minha praia no Algarve pejada de guarda-sóis e 'tugas branquelas desesperadamente em busca dos UV. (Quero dizer... "vi a praia" é um bocado mentira, mas olhei lá para o sítio, porque já para lá vou vai para vinte e tal anos e sei muito bem onde ela fica).

Mas foi bom. Tudo bem que a questão dos incêndios por um lado e da Selecção Nacional a arder pelo outro eram dispensáveis. Ainda assim, pode dizer-se que foi um Verão, Verão! Calor, solzão, água quentinha, sardinhadas, praia até às 8 e tal, marisco, nights out, boa companhia... não faltou nada.

Este ano mudei de praia. Ou melhor, cheguei-me mais lá para a frente, que mudar de praia não está nos meus planos. Acabaram com os nossos toldos à frente de casa - a malta foi em busca de uns toldos que nos quisessem.
Desta vez não foi o 14, mas como já era o 14 há mais de 50 anos, foi o "23-não-14!".
Apesar de ser um bocadinho mais longe e a 3ª idade já pensar duas vezes antes de se pôr a caminho, foi uma boa escolha: o grupo mudou-se em peso e há agora muito mais espaço. Até espreguiçadeiras temos!
(Eu até vos dizia para onde vou agora, mas pró ano 'tá tudo lá caído e isso é que não pode ser!)

Mas a minha versão de praia no Algarve é a versão soft... porque não sou realmente turista. Conheço a praia, os caminhos, os sítios, as pessoas. Ali só "enfia o barrete" quem parte à descoberta. E partir à descoberta no Algarve em pleno Agosto é um desafio (potencialmente) desastroso...

Veraneante de Agosto que se preze põe o guarda-Sol às costas, agarra no puto e no tacho do arroz de tomate, dá dois berros à mulher que não se esqueça de trazer o tupperware dos carapaus fritos e ala que se faz tarde! Chega à praia, encontra outras tantas famílias similares e abanca onde lhe dá mais jeito: afasta umas toalhas com o pé como quem não quer a coisa porque aqui fico eu e mai' nada.

E pronto, passa ali o dia a botar o bronzeador na "dama", a gritar ao puto que não "amande água às pessoas, tás parvo ou quê?! Não tarda nada tás a levar, óvistes?" e assim se faz um g'anda dia de praia.

E ao jantar, meus senhores? Querem emoção e testar os vossos limites? Esqueçam os saltos de pára-quedas e vão mas é jantar ao Algarve em Agosto.
"Good evening!"
"Atão? Good evening? Mas nós somos de cá! Boa Noite!"
"Ah são portugueses?! Atão deixa 'tar que já alombam aí com duas horas à porta à espera. Um momento, por favor"
E daí em diante, é sempre a melhorar até onde a vossa imaginação vos levar.

Portanto, quem conhece vai sempre aos mesmos, porque nos que não conhece não tem hipótese...

Verdade seja dita, o Algarve está a recuperar... não apanhei grande trânsito para lá, não apanhei grande trânsito para cá, não congelei os ossos a entrar na água, não paguei "gato por lebre" em lado nenhum, não vi nenhum Jet7 mais bronzeado que um africano bronzeado, enfim... um dia destes ainda convenço o meu namorado que aquilo até é bom!