22 junho 2017

O fogo.

Escrevo do conforto do meu sofá, com um nó na garganta.

Os incêndios deste ano estão a ser mais, maiores e piores do que havia memória. Não tenho em Pedrógão nada de meu mas tenho muito de nosso: temos o país, as nossas terras, as nossas pessoas a sucumbir perante as força de uma natureza que não temos sabido gerir, proteger e estimar.

Daqui, de onde escrevo, posso apenas imaginar a angústia que haverá em perceber que se perdeu tanto ou, pior, que se estava a fugir em direcção ao fim. Quase sentimos as estórias como se fossem nossas. Mas é esse "quase" que nos separa do real e, por isso, o que nos dói é muito pouco por comparação com quem ficou com a morte e a destruição gravadas na alma. Muito obrigada aos bombeiros, às polícias e aos civis que as enfrentaram por todos nós.

08 setembro 2016

Ontem fomos à guerra. Com uma osga. Às duas da manhã.

1:00 - Já era tarde e, cansada, digo-lhes que tenho que ir para casa, que o que estávamos a fazer teria que ficar para outro dia. Levanto-me e despeço-me com os olhos meio fechados, mas não totalmente: iam abertos o suficiente para, no caminho para as escadas, avistar uma pequena osga no tecto do quarto dos Pais.
1:01 - Acendo a luz, percorro o resto do quarto com o olhar e, surpresa!, outra invasora, umas três vezes maior que a primeira, na parede do fundo.
"Joana, Luís! Não vão acreditar..."
Reúno as tropas, "como e que vamos dizer à Mãe?", "vamos apanhá-las", balde, vassoura, câmara de filmar. Atacámos a primeira.
1:03 - A bicha voava pela janela e lá ía à vida dela. Agora a outra.
"Onde é que está?", "é enorme!", "como e que apanhamos isto?". Fizemos uma barreira de sapatos (porque uma osga sobe paredes mas, perante uma fila de sapatos, calma aí!) e afastámos o cortinado. "Esquece, o melhor é fecharmos este quarto para sempre." Ainda assim, e com uma coragem vinda não sei de onde, atacámos o bicho... Claro que ela fugiu, "que nojo", "para onde é que foi?", "eu é que não saio de cima da cama!". Não sei mais quanto tempo à procura dela de cabeça para baixo, tudo revolteado, um calor desgraçado. "Está aqui, eu empurro e tu bates!". Fugiu outra vez. Procurámos, procurámos: nada, zero.
"Como e que vamos dizer a Mãe que tem uma osga perdida no quarto?"
"Não dizemos. Eu posso convida-lá a vir dormir para o meu quarto!" Para sempre...
Mas ali não estava. Fomos aos outros quartos, um de cada vez, revistado ao centímetro. Nada. Nem ali, nem nas escadas, nem no piso de baixo...
Ouvimos passos. Ainda a Mãe vinha a subir e: "onde é que está a osga?"
"Aqui não está!". "O quê? Qual osga?". "Olá Mãe!, então?".
Chegou a voz de comando e com ela o aspirador, a pá, as canecas de água, a toalha enrolada para tapar a fresta da porta. Todo um profissionalismo!
Começamos de novo: lanternas em punho, rabo para o ar a procura da dita. Sapatos para fora do quarto, tudo inspeccionado. E onde é que ela estava? Outra vez atrás do cortinado. Armas em punho (não fosse ela atacar) e tudo em alvoroço. Canecadas de água para atordoar, "cuidado com os fios eléctricos!", "não! atira para onde quer que seja!".
2:35 - uma hora e meia mais tarde, sucesso! Apanhamos a bicha zonza e, com a pá, foi acompanhada à janela para ir ter com a outra.

Moral da história: não há. Fico sem saber como é que o raio duma osga de 15 cm põe quatro adultos em alvoroço a estas horas da madrugada.

24 junho 2016

Brexit

Cresci no meio da febre europeia; Portugal entrou no jogo pouco depois de eu nascer. O sonho era ter várias equipas a tentar puxar para o mesmo lado (menos nos Jogos Sem Fonteiras em que era cada um por si e no fim ganhava Vila Franca de Xira).
Como é que um 48x52 decide o futuro de um continente? Mas democracia é mesmo assim, embora bastem poucos minutos para perceber quantas opiniões vêm de gente que ainda percebe menos disto do que eu. E nada me garante que amanhã não seria o resultado inverso...
Os mercados estão em sismo, a política também. Nada disto funciona isoladamente.
Disto que a Inglaterra decidiu hoje é que eu não estava à espera.
Cheira-me que vem aí tempestade.

13 junho 2016

"Trata só os outros com o respeito que gostarias que tivessem por ti."

Nao lhe conhecia esta vertente; não o teria dito melhor. Fica o meu aplauso ao Rui Maria Pêgo.

"Há uns tempos um amigo perguntava-me: "o que é isso de ser figura pública? Já se qualificam como figuras públicas, as meninas apanhadas a fazer amor no Main?"
Dificilmente. Por mais que já se lhes conheça alguns ângulos mortos. 
Conheço pessoas que dizem ser "figura pública por profissão". Ou seja, existem, respiram, de forma... Pública. O seu trabalho é esse: oxigenar o sangue à frente dos outros.
Tudo bem. Cada um respira como quer. Menos aqueles que acabam mortos por não respirarem como é suposto.
E não estou aqui a fazer uma graça com asmáticos. Morreram 50 pessoas em Orlando - terra da Disney - que ousaram ser quem são dentro de um local que imaginavam seguro. 
No fundo, respiravam. Lá na vida deles. Ligeiramente entrincheirados numa discoteca lá "deles".
Para sempre "meio entrincheirados".
Porque é sempre assim, não é? Morreram "aqueles". Aqueles sírios. Aqueles turcos. Aquelas nigerianas raptadas e violadas pelo Boko Haram. Aqueles paneleiros que quiseram abanar-se ao som de Ariana Grande.
Não digo paneleiros para chocar. Digo-o porque as palavras têm vida; memória. Digo-o porque esses paneleiros são iguais a ti que estás a ler isto. 
E são completamente iguais a mim; são pessoas.
Por circunstâncias escolhidas e herdadas, sou uma figura pública - por mais que o termo me faça rir. 
Contudo, não desconto no IRS com croquetes e não apareço muitas vezes nas revistas que acabam esquecidas em salas de espera. Esse não é o meu trabalho.
O meu trabalho é público. Seja na televisão, ou na rádio, mas gosto de pensar que existe para promover discussão. 
É por isso que escolho ter o desplante de falar disto às quase 60 mil pessoas que seguem esta página.
Coincide gostar de meninos. Mas gosto mais de que toda a gente possa ser o que quiser, onde quiser, de que forma quiser, sem esperar um balázio na testa.
Não me parece pedir muito.
E eles não pediram muito. Quiseram só estar à vontade.
Não quero pôr um # a trendar. 
Quero só que penses como, ao fomentar o ódio, vamos todos parar ao mesmo forno.
É só uma questão de tempo.
Não rezes por Orlando. Trata só os outros com o respeito que gostarias que tivessem por ti."

07 junho 2016

Sempre a facturar

Está história da carta por pontos faz-me lembrar o jogo da forca: à primeira vai um bracinho, a seguir uma perninha e quando menos se espera, pimbas, já foste.

01 junho 2016

Preço Certo

Por (infelizes) circunstâncias da vida, tenho passado longas horas num quarto de hospital, a acompanhar o meu Avô. Saúdes à parte, temos estado hoje aqui especados a olhar para a televisão, lá pendurada no alto, e a comentar os programas da tarde. Felizmente chegou a hora de começar o "Preço Certo". Não é coisa que veja em casa (não é coisa que costume ver em lado nenhum), mas estes dias têm-me feito perceber o sucesso do programa. Depois de tardes perdidas a ouvir sobre as desgraças alheias, chega finalmente o tal bocadinho cómico, onde toda a gente traz presuntos e bandeiras e cachecóis, toda a gente manda beijinhos para este e aquele, toda a gente agradece ao presidente da Junta que cedeu a camioneta para virem à televisão e ao senhor da mercearia da esquina que ofereceu a vinhaça para acompanhar o farnel. Vibram quando acertam e quando perdem porque o entretenimento vale em qualquer dos casos. Custa imaginar como aquela gente naquela hora consegue ser a única companhia para tantas pessoas por esse país fora...

31 maio 2016

Sol firme, céu azul

diz o senhor da rádio quando vem o bom tempo. Foi preciso chegarmos ao fim de Maio para o São Pedro deitar bom tempo cá para baixo! Estou inclinada para duvidar disto tudo, que eu sou uma pessoa com sentimentos e esta coisa de andar a brincar com a meteorologia ainda me vai causar uma úlcera de stress. Vamos lá a mostrar o que vales e depois falamos.

12 abril 2016

Hum... O mistério do pãozinho quentinho.

Não sei o que se passa com as padarias desta terra. De cada vez que vou comprar pão quente, chego a casa com um a menos. Algo de muito estranho está a acontecer, e a culpa não é minha.

09 março 2016

Cá vai a novidade

Pois que a malta vai casar.
Pois que a malta foi enfiada num aviãozinho de surpresa, com destino a Barcelona e adorou tudo. Adorou não saber que ia viajar, não saber que tinha tudo programado há meses, não saber que ia haver um anel metido ao barulho. E a malta disse que sim, aliás, disse "claro que sim", porque já tinha decidido que era por aqui que ia quando juntou os trapinhos há quase dois anos.
A malta sou eu e o J. e estamos muito felizes.

17 fevereiro 2016

O estetoscópio

Há uns 200 anos atrás, o Dr. Laennec precisou de inventar um aparelho que o ajudasse a perceber melhor os sons que se ouviam vindos do peito dos seus doentes. E assim, tão simplesmente quanto isto (bom, resumindo, está claro), nasceu aquele que é agora um símbolo incontornável da medicina.

É engraçado olhar para trás e ver como há tão pouco tempo não existia algo tão simples, que vive hoje em dia ao pescoço de todos os médicos!

14 fevereiro 2016

29 dezembro 2015

Long live the piropo! Ordinarice é que não

"É tudo brincadeira, sedução".
Expliquem-me lá melhor porque é que lá por ser mulher/miúda/menina (!) tenho que saber que andar na rua não é para mim? Que me estou a habilitar? Porque é que a minha irmã, a minha filha, a minha neta se têm que sujeitar ao dia-a-dia de ter homens que não conhecem de lado nenhum a tratá-las por "tu", chamá-las sabe-se lá o quê e tecer comentários assediosos sobre o aspecto físico do seu corpo? Medo, a bem da salvação dessa gente?

Código Penal
Artigo 170.º - Importunação sexual
"Quem importunar outra pessoa, praticando perante ela atos de carácter exibicionista, formulando propostas de teor sexual ou constrangendo-a a contacto de natureza sexual, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal."

30 novembro 2015

Querido Pai Natal #1

De tão bem que me portei este ano, venho humildemente escrever esta cartinha. Como estou certa que muitas missivas estarão a chegar à sua morada, envio mais esta em fascículos (para que não se sinta atropelado), com algumas sugestões, para ajudar na escolha de um presentinho para o meu sapatinho.
Obrigada desde já pelo tempo dispensado. Qualquer informação adicional, é pedir!



Omnia, by Anna Westerlund.

25 novembro 2015

Chapéus há muitos, parece-me que até demais...

Eu adoro chapéus. Tenho alguns e todos os anos dou um arzinho da minha graça passeando-os orgulhosamente em alguma voltinha pela cidade. Pois que este ano todo o mundo se lembrou de proteger a cabecinha e os chapéus pululam por todo o lado: ele é nos cafés, ele é na rua, até dentro do carro já vi chapéus na cabeça. Tudo bem, é moda, mas é demais. E é pena, porque o chato é que eu tendo a desgostar daquilo que todo o mundo de repente gosta... esta coisa de andar em carneirada, tudo de chapelinho e bibe igual ficou lá nos confins da minha infância (um grande beijinho para o Jardim-Escola do meu coração). É só isso, não me apetece!... Daí que este ano ainda só tenha saído de chapéu uma vez e dá-me ideia que a coisa vai ser escassa...

20 novembro 2015

Assembleia da República aprova adoção por casais do mesmo sexo

Não sei se dois homens serão capazes de dar a uma criança o amor que ela merece. Não sei se duas mulheres poderão ser as figuras fortes que qualquer criança necessita. Mas sei que não é por serem dois homens ou duas mulheres que não podem ser tudo o que uma criança precisa.
Hoje foi um bom dia.

16 novembro 2015

As meninas?

Mas que pouca vergonha é esta? De onde saiu agora este sr Arroja? Quem é que se julga para vir vomitar opiniões? Fala das 'meninas do bloco de esquerda', 'esganiçadas', que não queria 'nem dadas'?? Dobre a língua, senhor! Nem vou comentar a arrogância de ter elaborado a hipótese (por favor!), porque nem que quisesse! Acha-se alguém tão lá no alto dum pedestal, que não vislumbra a baixaria onde se enterrou. Onde já chegou o baixo nível...

10 novembro 2015

Que golpe de estado?

Não vejo discutir ideias, raramente ouço opiniões: tudo o que há é barulho. Dos que choram a queda de quem venceu as eleições; dos que comemoram o derrube desses grandes malvados. Vamos lá por os pontos nos is: tão legítimo seria um governo da coligação como legítimo é que a maioria da assembleia se una em torno de um objectivo comum, qualquer que ele seja. São as regras do jogo e não é a gritaria que dá mais razão a uns ou a outros. Deixem-se disso.
Aprenda-se e reflita-se antes de se emitirem opiniões. Ouçam mais do que falam. É por isso que temos dois ouvidos e apenas uma boca.

09 novembro 2015

Das minhas dificuldades matinais

Lá na fábrica onde se produzem os renaults clio azuis há uma graça recorrente (tenho a certeza). Mal sai mais um do forno, mandam-no para a minha rua, onde estacionam diariamente mais carros desses iguais do que a destreza mental me permite distinguir pela manhã. Saio ainda o sol mal raiou e vou rua-acima a pensar qual daqueles seis estacionados perto uns dos outros será. Às vezes lembro-me que afinal na véspera tinha estacionado para o outro lado. E lá vou eu rua-abaixo, tentando descobrir por diferenças de jantes e forro interior, qual dos outros cinco será afinal... Raiosmapartam!

02 novembro 2015

Saudade

Morrer é o que de mais certo temos na vida. Tudo o mais é incerto, incógnito, imprevisível. Menos a esperança. E por isso (e apesar de tudo... e talvez por uma enorme falta de objectividade), nunca nos habituamos à ideia de que nos vai tocar muito mais próximo e mais depressa do que gostaríamos. Acontece uma e outra e outra vez. Dói sempre de maneira diferente, mas dói sempre muito. Dói-nos a nossa dor e a daqueles de quem mais gostamos. Com o tempo a dor transforma-se. Em mim, primeiro em incredulidade, numa espécie de realidade paralela, num pesadelo de que concerteza vou acordar. E depois de todo o processo de luto, numa saudade imensa. Hoje, é o que tenho dessas minhas pessoas. Uma saudade imensa.

29 outubro 2015

Dias tristes

Têm sido dias tristes e feios.
Nunca, em lado nenhum, devia uma sobrevivente sofrer outro e outro golpe. Nunca, em tempo nenhum, devia uma pessoa perder a vida quando toda ela lhe devia estar pela frente. Nunca na vida devia um pai ter que enterrar um filho.
Têm sido dias tristes e feios, que nos fazem pensar que sentido tem a vida. Talvez nada esteja verdadeiramente nas nossas mãos e a justiça... simplesmente não exista.

25 outubro 2015

Estou aqui mas é como se não estivesse

Estou quase capaz de dizer que entre o trabalho que tenho, o trabalho que invento e a inércia que tenho tido, o blog se ficou moribundo, pelas ruas da amargura. Não se passa cá nada, é um vácuo que nem no espaço. Desculpem lá qualquer coisinha, mas isto entretanto há-de renascer qual fénix, em todo o seu esplendor. Ou então volta a ser o mesmo canto fraquinho a que já nos fomos habituando. Uma das duas.

02 outubro 2015

Uma dor de alma

Ver entrevistas de rua sobre a política nacional.
Pior do que a maior parte das pessoas não saber nada de nada é, simplesmente, não quererem saber...


01 outubro 2015

Aviso à navegação

Estou viva, tanto quanto sei.
Não me têm oferecido os lugares dos velhotes no metro nem me propuseram reforma.
Ainda não tive nenhum desconto da terceira idade nem recebi cartão de sócia do Inatel.
Não sinto dores nas cruzes nem nos artelhos.
Ainda não preciso de "zoom de braço" para conseguir focar e ler.
Não tenho cabelos brancos nem preciso de dentadura.
Ainda não vi cintas ou cuecas de avó no armário.

Estou há quase quinze dias nos trinta, mas por enquanto está tudo bem.

04 setembro 2015

O cidadão, da loja do cidadão

Vim passar a tarde a um serviço de atendimento ao público.
Ainda só estou aqui há meia hora mas já pude apreciar vários tipos de utilizadores:
- o conversador: vem e tira uma senha. Senta-se de costas para o ecrã onde vão passando os números e conversa com quem esteja mais à mão, com quem cometa o erro de cruzar o olhar com ele ou sozinho se não houver melhor companhia. Ao fim de algum tempo dá conta (ou é avisado) de que já foi chamado. Por sorte ainda está na tolerância de três números e portanto pode levar a conversa para o funcionário ao balcão, ou para o do lado caso o primeiro não lhe dê troco. Senão, continua a conversar sozinho.
- o indeciso: chega à máquina que dá as senhas e lê todas as opções. Será que escolhe uma, será que escolhe outra? Por via das dúvidas traz as duas. E mais uma ou outra, não vá ser preciso.
- o 'palavrinha': encosta-se ao balcão sem tirar senha nenhuma, não precisa, "é só para dar uma palavrinha". Com essa 'palavrinha' conta resolver tudo o que o leva ali, ocupando meia hora ao balcão. Mas como é só 'uma palavrinha'...
- o mais esperto de todos: vem em passo de corrida, passa pelo meio das cinquenta pessoas que ali estão à espera e dirige-se imediatamente ao balcão. Diz logo ao que vai, perante os olhares incrédulos dos restantes. Quando finalmente lhe é explicado que tem muita gente à frente e que deve aguardar a sua vez, exclama: "mas é preciso tirar senha?!" Não!, viemos todos aqui passar a tarde...

(Desculpem, chamaram-me)

01 setembro 2015

É meia dúzia!

Ontem foi o dia mundial do blog e hoje faz meia dúzia de anos que me estreei neste mundo.
Ofereço-me um Óscar pela persistência - já que ninguém me quer oferecer mais nada - e, por isso, tenho direito a discurso:
A quem contribui diariamente para fertilizar a minha imaginação, obrigada.
Quero agradecer à minha mãezinha o recheio do armário onde me abasteço com frequência.
Quero agradecer ao meu paizinho o gene da gasolina que me transmitiu.
Ao meu namorado, as festinhas e os beijinhos e a trabalheira que me dá tous les jours.
E aos meus irmãos por todas as enormes estupidezes que me dão a assistir, bolas, que gente mais aparvalhada!
É tudo. À dúzia espero uma festa.

27 agosto 2015

Clac - clac - clac

À frente da minha janela do consultório está uma senhora dos seus 70 anos, sentada no banco da paragem do autocarro, muito bem arranjada, chapéu e tudo, de corta-unhas em punho: clac - clac - clac, clac - clac - clac.

Isto é só a mim que incomoda??

26 agosto 2015

A Mulher Portuguesa

A mulher portuguesa não é só Fada do Lar, como Bruxa do Ar, Senhora do Mar e Menina Absolutamente Impossível de Domar. É melhor que o Homem Português, não por ser mulher, mas por ser mais portuguesa. Trabalha mais, sabe mais, quer mais e pode mais. Faz tudo mais à excepção de poucas actividades de discutível contribuição nacional (beber e comer de mais, ir ao futebol, etc). Portugal (i.e., os homens portugueses) pagam-lhe este serviço, pagando-lhes menos, ou até nada.

O pior defeito do Homem português é achar-se melhor e mais capaz que a Mulher. A maior qualidade da Mulher Portuguesa é não ligar nada a essas crassas generalizações, sabendo perfeitamente que não é verdade. Eis a primeira grande diferença: o Português liga muito à dicotomia Homem/Mulher; a Portuguesa não. O Português diz «O Homem isto, enquanto a Mulher aquilo». A Portuguesa diz «Depende». A única distinção que faz a Mulher Portuguesa é dizer, regra geral, que gosta mais dos homens do que das mulheres. E, como gostos não se discutem, é essa a única generalização indiscutível.

A Mulher Portuguesa é o oposto do que o Homem Português pensa. Também nesta frase se confirma a ideia de que o Homem pensa e a Mulher é, o Homem acha e a Mulher julga, o Homem racionaliza e a Mulher raciocina. E mais: mesmo esta distinção básica é feita porque este artigo não foi escrito por uma Mulher.

Porque é que aquilo que o Homem pensa que a Mulher é, é o oposto daquilo que a Mulher é, se cada Homem conhece de perto pelo menos uma Mulher? Porque o Português, para mal dele, julga sempre que a Mulher «dele» é diferente de todas as outras mulheres (um pouco como também acha, e faz gala disso, que ele é igual a todos os homens). A Mulher dele é selvagem mas as outras são mansas. A Mulher dele é fogo, ciúme, argúcia, domínio, cuidado. As outras são todas mais tépidas, parvas, galinhas, boazinhas, compreensíveis.

Ora a Mulher Portuguesa é tudo menos «compreensiva». Ou por outra: compreende, compreende perfeitamente, mas não aceita. Se perdoa é porque começa a menosprezar, a perder as ilusões, e a paciência. Para ela, a reacção mais violenta não é a raiva nem o ódio – é a indiferença. Se não se vinga não é por ser «boazinha» – é porque acha que não vale a pena.

A Mulher Portuguesa, sobretudo, atura o Homem. E o Homem, casca grossa, não compreende o vexame enorme que é ser aturado, juntamente com as crianças, o clima e os animais domésticos. Aturar alguém é o mesmo que dizer «coitadinho, ele não passa disto…» No fundo não é mais do que um acto de compaixão. A Mulher Portuguesa tem um bocado de pena dos Homens. E nisto, convenhamos, tem um bocado de razão.

O que safa o Homem, para além da pena, é a Mulher achar-lhe uma certa graça. A Mulher não pensa que este achar-graça é uma expressão superior da sua sensibilidade – pelo contrário, diverte-se com a ideia de ser oriundo de uma baixeza instintiva e pré-civilizacional, mas engraçada. Considera que aquilo que a leva a gostar de um Homem é uma fraqueza, um fenómeno puramente neuro-vegetativo ou para-simpático – enfim, pulsões alegres ou tristemente irresistíveis, sem qualquer valor.

E chegamos a outra característica importante. É que a Mulher Portuguesa, se pudesse cingir-se ao domínio da sua inteligência e mais pura vontade, nunca se meteria com Homem nenhum. Para quê? Se já sabe o que o Homem é? Aliás, não fossem certas questões desprezíveis da Natureza, passa muito bem sem os homens. No fundo encara-os como um fumador inveterado encara os cigarros: «Eu não devia, mas.. » E, como assim é, e não há nada a fazer, fuma-os alegremente com a atitude sã e filosófica do «Que se lixe».

Homens, em contrapartida, não podiam ser mais dependentes. Esta dependência, este ar desastrado e carente que nos está na cara, também vai fomentando alguma compaixão da parte das mulheres. A Mulher Portuguesa também atura o Homem porque acha que «ele sozinho, coitado; não se governava». O ditado «Quem manda na casa é ela, quem manda nela sou eu» é uma expressão da vacuidade do machismo português. A Mulher governa realmente o que é preciso governar, enquanto o homem, por abstracção ou inutilidade, se contenta com a aparência idiota de «mandar» nela. Mas ninguém manda nela. Quando muito, ela deixa que ele retenha a impressão de mandar. Porque ele, coitado, liga muito a essas coisas. Porque ele vive atormentado pelo terror que seria os amigos verificarem que ele, na realidade, não só na rua como em casa não «manda» absolutamente nada. «Mandar» é como «enviar» – é preciso ter algo para mandar e algo ao qual mandar. Esses algos são as mulheres que fazem.

O Homem é apenas alguém armado em carteiro. É o carteiro que está convencido que escreveu as cartas todas que diariamente entrega. A Mulher é a remetente e a destinatária que lhe alimenta essa ilusão, porque também não lhe faz diferença absolutamente nenhuma. Abre a porta de casa e diz «Muito obrigada». É quase uma questão de educação.

A imagem da «Mulher Portuguesa» que os homens portugueses fabricaram é apenas uma imagem da mulher com a qual eles realmente seriam capazes de se sentirem superiores. Uma galinha. Que dizer de um homem que é domador de galinhas, porque os outros animais lhe metem medo?

Na realidade, A Mulher Portuguesa é uma leoa que, por força das circunstâncias, sabe imitar a voz das galinhas, porque o rugir dela mete medo ao parceiro. Quando perdem a paciência, ou se cansam, cuidado. A Mulher portuguesa zangada não é o «Agarrem-me senão eu mato-o» dos homens: agarra mesmo, e mata mesmo. Se a Padeira de Aljubarrota fosse padeiro, é provável que se pusesse antes a envenenar os pães e ir servi-los aos castelhanos, em vez de sair porta fora com a pá na mão.





Miguel Esteves Cardoso, in ' A Causa das Coisas

22 agosto 2015

Sabes que estás na Comporta quando o vidro mais sujo do jipe mais sujo não diz "lava-me porco" mas sim "Carminho".

19 agosto 2015

Pior

Pior do que fazer 30 anos daqui a um mês, é pensar daqui a dez anos e um mês entro nos 40!...

04 agosto 2015

02 agosto 2015

Oh Rosa arredonda a saia

É sabido que tudo o que cheire a tradição portuguesa me puxa um bocadinho ao sentimento e esta saia da Baínha de Copas cabe perfeitamente nessa premissa. É um estilo que cai bem a miúdas magricelas como eu e aquele padrão dos azulejos fica a matar.
Sai um bocadão bocadinho do orçamento mas, vá, se é para sonhar que seja alto!






29 julho 2015

Viemos

Fomos para o Douro, aquele paraíso na terra e se as obrigações não tivessem falado mais alto, tinha ficado mesmo por lá.

Um hotel novinho em folha, simpáticos, tudo impecável, vistas de cortar a respiração, almoços e jantares de comer e chorar por mais... E horas e horas de puro dolce far niente.

Gastei os últimos cartuchos a engendrar maneiras e formas de não ter que voltar, planos perfeitos para nos deixarmos ficar por ali. Vai que me dava uma doença súbita e não podia deslocar-me. Ou que ganhávamos uma estadia por tempo indeterminado e ninguém dava por nada cá em baixo. Ou que a chave do hotel se perdia e nunca mais podíamos sair de lá. Ou que caía um pedregulho na estrada e não se podia passar mais. Tudo possibilidades!

Mas não aconteceu... E viemos. Mas estou desolada porque aquilo é que era vida...



21 julho 2015

Parabéns

Fazem hoje 31 anos de casamento. Nesta geração de pais, é coisa que não se usa, estar muito tempo casado. Mas os meus Pais são assim, muito fora de moda, muito aquém das tendências actuais. Escolheram-se e escolheram esforçar-se por criar a nossa família. Decidiram que os dias bons haviam de ser mais e melhores que os dias maus e que estes - que os há sempre - seriam para aprender e passar adiante. Tiveram filhos, uma e outra e outro e, modéstia à parte, não se saíram nada mal. São assim, Pais com letra maiúscula, e são a nossa casa, a nossa bússola, o nosso passado e o nosso futuro. Hoje estão de parabéns pelo seu casamento e pela sua família. Por isso, parabéns a nós.



20 julho 2015

Pior

Pior do que estar no trânsito a uma segunda-feira de manhã, só estar no trânsito a uma segunda-feira de manhã entre um carro amarelo com orelhas, outro a anunciar cursos de estética canina e tudo isto ao som de house music de um descapotável de gosto duvidoso.
Bom dia e boa semana.

14 julho 2015

Envelhecer

“Minha querida menina, no dia que você perceber que estou envelhecendo, eu peço a você para ser paciente, mas acima de tudo, tentar entender pelo o que estarei passando.
Se quando conversarmos, eu repetir a mesma coisa dezenas de vezes, não me interrompa dizendo: “Você disse a mesma coisa um minuto atrás”. Apenas ouça, por favor. Tente se lembrar das vezes quando... você era uma criança e eu li a mesma história noite após noite até você dormir.
Quando eu não quiser tomar banho, não se zangue e não me encabule. Lembra de quando você era criança eu tinha que correr atrás de você dando desculpas e tentando colocar você no banho?
Quando você perceber que tenho dificuldades com novas tecnologias, me dê tempo para aprender e não me olhe daquele jeito...lembre-se, querida, de como eu pacientemente ensinei a você muitas coisas, como comer direito, vestir-se, arrumar seu cabelo e lhe dar com os problemas da vida todos os dias...o dia que você ver que estou envelhecendo, eu lhe peço para ser paciente, mas acima de tudo, tentar entender pelo o que estarei passando.
Se eu ocasionalmente me perder em uma conversa, dê-me tempo para lembrar e se eu não conseguir, não fique nervosa, impaciente ou arrogante. Apenas lembre-se, em seu coração, que a coisa mais importante para mim é estar com você.
E quando eu envelhecer e minhas pernas não me permitirem andar tão rápido quanto antes, me dê sua mão da mesma maneira que eu lhe ofereci a minha em seus primeiros passos.
Quando este dia chegar, não se sinta triste. Apenas fique comigo e me entenda, enquanto termino minha vida com amor. Eu vou adorar e agradecer pelo tempo e alegria que compartilhamos. Com um sorriso e o imenso amor que sempre tive por você, eu apenas quero dizer, eu te amo minha querida filha.”

12 julho 2015

Resumo dos últimos dias

Casillas, filho, não chores mais. O Pintinho só te queria cá para vender mais umas camisetas. Tu se não queres, não venhas. Para a Carbonara, Carbonero, essa grande querida, vir para Portugal era coisa para lhe dar uma coisinha má, e a gente também não quer isso. E os teus paizinhos (consta que não se falam... Ainda os conheces?) que nem deviam saber da existência de um país aí ao lado, acham que isto é tudo uma grande possidonice e que depois de velho não havias de vir para um pequeno "clube de segunda B" que nem o FCP, que é coisa que lá no bairro não dá prestígio nenhum. Pelo menos uma estátua e um lugarzinho no Panteão, pois concerteza.

Agora num registo totalmente diferente.
Malta, já percebemos que são todos bué alternativos e que o Alive está a ser a melhor coisa da vida, me'mo brutal, tipo, altamente, assim quase como... Nem sei explicar. Sim, é difícil juntar palavras mas já percebi tudo: são todos montes de fans das bandas, há montes de anos, aliás, ainda eles não eram uma banda, já vocês andavam atrás deles a tirar selfies de costas para o palco. Não precisam de dizer mais nada.

A propósito de um qualquer tema polémico de hoje no facebook,

diz um senhor letrado, numa explicação demorada: "repúdio viamente"! E logo cento e tal aplaudem e gostam das suas palavras, mas nem um comenta o espalho.
Eu, que por estes mesmos motivos não me gasto por essas paragens e até as repudio - nada se aprende em caixas de comentários de redes sociais -, sinto logo um veemente asco e mudo de página.