24 maio 2013

Os toldos de Armação de Pêra

Uma pessoa quer poder ir de férias descansada. Pensa em ter uma casa na praia, um toldo na areia e passar o Verão à beira-mar. Uma pessoa faz um mealheiro e compra a casinha numa vila de pescadores numa baía agradável no Algarve e, com os amigos que fizeram o mesmo, passa lá muitos verões extradordinários. Vêm os filhos, vêm as noras, vêm os netos e daqui a pouco já virão os bisnetos... Uma pessoa cria lembranças todos os anos no mesmo toldo 14 da praia dos pescadores. Uma pessoa queria poder ir de férias descansada e conseguiu. As casas ficavam fechadas de um ano para o outro à espera de mais Verão e os toldos reservavam-se à época com o banheiro: "Então até p'ro ano, se Deus quiser!", "Adeus, minha senhora, até p'ro ano!". Uma pessoa conhece os vizinhos, a senhora da padaria, o Sr. Vieira da Palhota e o Sr. do Cake - são sempre os mesmos há 50 anos. É que uma pessoa já faz 92. Mas este ano já não vai poder ir de férias descansada porque este ano vai ser preciso fazer fila à porta da Junta de Freguesia para reservar o toldo. E uma pessoa de 92 anos não pode passar horas numa fila, muito menos 4 dias e 4 noites na rua à espera de reservar o toldo. Os filhos trabalham, os netos trabalham e quando lá chegarem na sexta à noite já a fila estará longa e os toldos destinados. Não sabe de quem é a culpa, só queria poder ter um toldo para estar descansada à sombra a ver o mar. Como sempre. E por isso uma pessoa este ano vai fazer menos praia porque os outros toldos já ficam longe para quem tem 92 e andar pela zona dos chapéus, apinhada, já não é fácil. Talvez fique por uma esplanada. Mas sempre a olhar para a praia e para os Verões à beira-mar.

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