10 maio 2013

De transporte público

Corro para apanhar o autocarro. Tenho tempo de sobra: à minha frente entra uma octagenária de 3 pernas (duas poucochinhas) que se deixa ficar ali em pé porque o carro vai cheio. Detenho-me a olhar em volta. A classe sénior predomina mas os outros não abdicam do assento em que descansam as suas reais bundas, assobiando distraidamente para o lado. Arrancamos. Discute-se o tempo, os impostos, a troika e as taxas moderadoras da saúde. A minha companheira de viagem em pé não opina. A sua preocupação é em segurar-se às circunstâncias; a ela, à carteira, à sombrinha, ao saco das compras. Ao pé de si vai sentada uma deficiente motora, num lugar reservado para si. Madame de meia idade, muito bem posta, saltos altos, nariz empinado. Toca para sair e dá um jeito na fatiota. O motorista trava com maior veemência - o que não esperava a senhora em pé -, e pronto, num tropeção vai a sombrinha parar ao chão e o saco das compras, com o impulso da travagem, bate com épica força na madame. Se o olhar matasse... "Parece impossível!", e levanta-se de uma vez. E também a mim me parece impossível o milagre. Madame não é mais deficiente motora e sai, curada!, de nariz e agora também ego empinado.

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