10 junho 2011

Portugal

É certo e sabido
que Portugal recém-nascido
foi logo, pelo nosso Rei,
pelo Clero,
pela Nobreza
e pela Grei,
oferecido,
com alvoroço
e grande alegria
à Virgem Nossa Senhora,
Santa Maria.
E, como excelsa Madrinha,
o aceitasse,
o abençoasse,
o criasse
e dele fizesse
um Homem,
um Santo Varão,
que dilatasse a Fé,
como bom cristão,
e levasse
e espalhasse,
desde o Tejo ao Industão,
desde o Dáfundo a todos
os recantos do Mundo,
o Evangelho,
a Verdade,
O Amor fraterno,
a Caridade,
e, assim, fizesse
muita cristandade.

E Nossa Senhora, sorrindo,
o tomou,
o acariciou,
o beijou,
e, ao divino peito,
o aconchegou.

E, depois?
Depois,
Ourique!
Aljubarrota!
Ceuta!
Madeira!
Açores!
Guiné!
Cabo Verde!
Angola!
Boa Esperança!
Moçambique!
Índia!
Brasil!
«folares» aos mil...
E, ainda,
a China!
o Japão!
Austrália!
Timor!
enfim, fez dele,
com galardão,
o facho da Renascença,
da Civilização
pioneiro,
Senhor de imensos domínios
e das rotas do
Mundo Inteiro.

Nos Domingos de Ramos,
Ramalhete do afilhado,
Mosteiro de Alcobaça,
da Batalha,
dos Jerónimos,
a Sé da Guarda
e outras formosas
catedrais...
E que mais?
Lindas Igrejas,
ermidas
e capelas
e, entre todas elas,
uma das mais belas,
são actos,
são factos,
uma flor
de amendoeira - a igreja
de Outeiro de Gatos.

E porque um dia pecou,
por cobiça e luxúria,
por sessenta anos,
o castigou,
sob o jugo espanhol,
mas, condoída por
tanta afronta sofrida,
o chamou
e lhe perdoou.
E Nossa Senhora
consentiu,
embora pareça coisa feia,
que desse à irmã Espanha,
uma valente tareia...
(juro, pelos Meus,
que a sova teve
a benção de Deus).

Reconhecido,
agradecido,
o afilhado,
à Virgem
ofereceu
o melhor que tinha de seu:
a Coroa Real,
para que, por todos os séculos
dos séculos além,
fosse Padroeira
e Rainha
de PORTUGAL!
Amen!

José de Abrunhosa
(1904-1973)
Do Jornal «A Guarda» de 15-03-1968

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