21 setembro 2009

Séquesso

Li este texto algures num jornal português. Traduz exactamente o que penso sobre o estado da educação no nosso país.
Fazendo parte de uma vasta família de professores, não podia deixar de o transcrever...

Séquesso

A pátria adora conversar sobre professores. A pátria, porém, nunca fala sobre educação. Portugal ainda não arranjou coragem para lidar com este facto: os alunos acabam o secundário sem saber escrever. Parece que os professores vão fazer uma 'marcha da indignação'. Pois muito bem. Eu também vou fazer uma marcha indignada. Vou descer a avenida com a seguinte tarja: 'os alunos portugueses conseguem tirar cursos superiores sem saber escrever'.
A coisa mais básica - saber escrever - deixou de ser relevante na escola portuguesa. De quem é a culpa? Dos professores? Certo. Do Ministério? Certo. Mas os principais culpados são os próprios pais. Mães e pais vivem obcecados com o culto decadente da psicologia infantil. Não se pode repreender o "menino" porque isso é excesso de autoridade, diz o psicólogo. Portanto, o petiz pode ser mal-educado para o professor. Não se pode dizer que o "menino" escreve mal porque isso pode afectar a sua auto-estima. Ou seja, o rapazola pode ser burro desde que seja feliz. O professor não pode marcar trabalhos de casa porque o "menino" deve ter tempo para brincar. Genial: o "menino" pode ser preguiçoso, desde que jogue na consola. Ora, este tal "menino" não passa de um mostrengo mimado que não respeita professores e colegas. Mais: este mostrengo nunca reconhece os seus próprios erros; na sua cabeça, 'sexo' será sempre 'séquesso'. Neste mundo Peter Pan os erros não existem e as coisas até mudam de nome. O "menino" não escreve mal; o "menino" faz, isso sim, escrita criativa. O "menino" não sabe escrever a palavra 'recessão', mas é um Eça em potência.
Caro leitor. se quer culpar alguém pelo estado lastimável da educação, então, só tem uma coisa a fazer: olhe-se ao espelho. E, já agora, desmarque a próxima consulta do "menino" no psicólogo.

Henrique Raposo

2 comentários:

  1. Coitados dos psicólogos... não são todos iguais! Não te parece que a ponderação é um importante factor de uma opinião? Para ser sincero não tenho um pensamento certo e definido sobre este assunto, talvez por não ter uma familia como a tua mas... a sensação com que fico ao ler o texto é que no meio de tanta indignação e "fúria" se perde o sentido de equilibrio... e isso também é importante para as crianças!

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  2. Nem os psicólogos são todos iguais, nem as famílias nem tão pouco as crianças. Mas não nos podemos esquecer que "a responsabilidade" do sucesso ou insucesso da todos nós deve começar SEMPRE em casa... daí que me pareça absurdo julgar primariamente os professores (tambem eles bons e maus) pelas inúmeras falhas dos jovens. É que parece que poucos veem que a maioria delas vêm de muito antes dos meninos chegarem à escola!

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